Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
Esta é uma pergunta que me persegue há 10 anos. Agora formulada no passado, mas muitas muitas vezes dita no presente, em forma de pergunta desesperada. Primeiro, "tenho cancro? Tenho cancro? E agora? Vou morrer?" Depois vieram muitas outras perguntas, quase sempre sem resposta, ou com uma resposta vaga e evasiva. "Vamos ver. Temos de abrir. Cada caso é um caso. Nunca tinha visto nada assim na sua idade." Depois da operação, e de cada vez que iniciava um novo ciclo de tratamentos ou de cada vez que falava com um médico passei a escutar palavras como "Tumor agressivo. Tumor difuso. Gastrectomia total. Células em anel de sinete. Quimioterapia. Radioterapia. E sempre a mesma pergunta na minha cabeça. " tenho cancro, e agora?" Com o passar dos anos as respostas a esta pergunta foram variando, porque também mudou o que eu era, o que esperava, o que queria da vida. Numa primeira fase sobreviver era o mais importante. Depois quis saber tudo, estar informada, saber o que me esperava. A seguir veio a luta física diária. Depois o medo, as dúvidas, as angústias. Passaram muitas fases até chegar aqui, a estes 10 anos. Já esperei muito pouco da vida. Agora quero o melhor dela. O cancro não me matou (não sei se não matará, um dia, mas este não será) e eu estou agora preparada para outras coisas, para outras perguntas e outras respostas. Sem medo. Neste momento, à luz da evolução da investigação na área do cancro do estômago, sinto necessidade de outras respostas à minha pergunta inicial. "Tive cancro, e agora? Foi genético? Que cuidados devo ter? Devo estar alerta pelos meus filhos? " É impressionante a falta de informação. É preciso escavar, não desistir, ouvir muitas imbecilidades até se conseguir bater à porta certa. Hoje bati a essa porta e ela abriu-se. Hoje conheci pessoalmente uma pessoa que muito admiro, o Professor Sobrinho Simões. Bastou-me a lata para lhe mandar um mail. Hoje abri uma porta que me vai levar ao conhecimento. Não sei se vou gostar de todas as descobertas, se não me irão inquietar... Mas está na altura de abrir o livro. A realidade existe e não vale a pena tapar o sol com a peneira... Hoje espero ter iniciado um novo ciclo que quero que se reflita aqui. Um espaço de esclarecimento, de ajuda a quem, como eu, se sentiu tão sozinho na sua busca por mais informação. Porque 10 anos são muito tempo. Está na hora de deixar de pensar para dentro e fazê-lo para fora, esclarecendo-me e ajudando, na medida do possível, que. Precisar.