Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
por Princesa das estrelas
eu dizia que não, que não andava preocupada, que tinha a certeza que estava tudo bem. Que dormia descansada e tudo e tudo, mas a verdade verdadinha é que me tiraram um peso de cima dos ombros.
Na minha última revisão tinha o valor de um marcador tumoral alterado. Ainda estava dentro dos valores normais, mas estava no limite superior. O meu médico disse para não me assustar, que era normal porque tinha passado por uma gravidez; que tinha os restantes exames que me diziam que estava tudo bem... mas, pelo sim pelo não mandou-me repetir a análise no dia 6 de Janeiro.
E lá fui. Deveria ligar duas semanas depois para saber o resultado, mas fui adiando. Não sei bem porquê (ou talvez saiba), fui deixando para amanhã, e para depois de amanhã....e só que chega a um dia em que não dá mais para adiar. Seja qual for o resultado tem de se encarar a coisa. E hoje lá liguei. E aqueles minutos de espera, em que oiço o médico teclar mas em que nenhum de nós diz uma palavra, pareceram-me horas...
Afinal está tudo bem, os valores voltaram a descer. Não há bicho mau aqui para estas bandas (a não ser o meu mau feitio).
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por Princesa das estrelas
Começo a perder a conta aos dias, o que me parece um bom princípio. Já faz quase um mês que ditaram a tua morte. E tu, casmurro como só tu sabes ser, decidiste que ainda não tinha chegado a tua hora e que, dependendo de ti, ainda havias de dar luta.
e sei que é assim que estás, a dar luta. Por mais que mantenhas os olhos fechados quando te visito, por mais cansado e cabisbaixo que te veja sei que, no teu íntimo, não baixaste os braços. Tu lutas, eu sinto-o, mas é difícil, penosamente difícil, manter o espírito 24 horas por dia.
Não é pai? Porque para ti os dias são todos iguais, as horas correrm a um ritmo muito próprio, muito lentamente... demasiado lentamente, posso adivinhar. Dias e noites devem-se confundir na tua memória... o teu calendário deve ser muito peculiar. Imagino o que marcará a evolção do teu tempo... como é que ele corre, como o contabilizas?
Até as visitassão sempre as mesmas...
Nunca foste de grandes conversa mas, agora que não mais voltarás a falar, imagino que tudo seja mais doloroso... ninguém com quem desabafares o que te via na alma... Estás privado de grande parte da tua vida, da tua rotina. Não comes, não falas, não vês os teus amigos, não estás em tua casa... não sabes se isto vai passar ou não....
Eu acredito que ainda tens muito para contar. Eu cá vou estar, a ler-te nos lábios, como gosto de fazer.
Um beijo do tamanho do mundo, e doces sonhos, pai.
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Começo a perder a conta aos dias, o que me parece um bom princípio. Já faz quase um mês que ditaram a tua morte. E tu, casmurro como só tu sabes ser, decidiste que ainda não tinha chegado a tua hora e que, dependendo de ti, ainda havias de dar luta.
e sei que é assim que estás, a dar luta. Por mais que mantenhas os olhos fechados quando te visito, por mais cansado e cabisbaixo que te veja sei que, no teu íntimo, não baixaste os braços. Tu lutas, eu sinto-o, mas é difícil, penosamente difícil, manter o espírito 24 horas por dia.
Não é pai? Porque para ti os dias são todos iguais, as horas correrm a um ritmo muito próprio, muito lentamente... demasiado lentamente, posso adivinhar. Dias e noites devem-se confundir na tua memória... o teu calendário deve ser muito peculiar. Imagino o que marcará a evolção do teu tempo... como é que ele corre, como o contabilizas?
Até as visitassão sempre as mesmas...
Nunca foste de grandes conversa mas, agora que não mais voltarás a falar, imagino que tudo seja mais doloroso... ninguém com quem desabafares o que te via na alma... Estás privado de grande parte da tua vida, da tua rotina. Não comes, não falas, não vês os teus amigos, não estás em tua casa... não sabes se isto vai passar ou não....
Eu acredito que ainda tens muito para contar. Eu cá vou estar, a ler-te nos lábios, como gosto de fazer.
Um beijo do tamanho do mundo, e doces sonhos, pai.
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por Princesa das estrelas
Hoje o meu pai não devia ter acordado.
Ontem tinha a hemoglobina a 2,7, muito abaixo do limiar de sobrevivência. Todos lhe ditámos o fim.
Hoje acordou. Abriu os olhos, escreveu num papel. Pediu-me um beijo.
Não consigo perceber se acordou para se despedir da vida ou para se agarrar a ela.
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Hoje o meu pai não devia ter acordado.
Ontem tinha a hemoglobina a 2,7, muito abaixo do limiar de sobrevivência. Todos lhe ditámos o fim.
Hoje acordou. Abriu os olhos, escreveu num papel. Pediu-me um beijo.
Não consigo perceber se acordou para se despedir da vida ou para se agarrar a ela.
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