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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
Foi há pouco mais de um ano que ela me ligou a dizer que estava doente. Cancro, mama, palavras disparavas a alta velocidade. E eu a tentar processar tudo e a tentar parecer calma e serena mas o meu coração estava prestes a explodir e a saltar-me pela boca. Cancro ela? Como? Porquê? Mas já não tinha tido eu? Não era suposto que os meus fossem poupados? Não tinha já morrido o meu pai? e o dela? Não tínhamos já nós as duas morrido um bocadinho no meio de tanto sofrimento, de tantos encontros e desencontros, no meio de tantas lágrimas? E depois lembro-me de pensar que era assim tipo um ensinamento. A vida queria testar-me. Ver se eu era capaz de estar lá para ela. De passar por tudo outra vez. Depois do meu pai, depois do dela. A vida afastou-nos muito no sentido físico do termo. Caminhámos em sentidos paralelos, houve um momento em que pensei que a tinha perdido. Mas não. Nem ela a mim. Ainda me sento no sofá entre ela e a mãe, debaixo de uma manta e parece que somos outra vez duas adolescentes. Faz hoje um ano que ela esteve mais de 10 horas numa mesa de operações. E eu passei parte desse tempo ao lado da mãe dela, a olhar para as mesmas portas de vidro, sempre à espera que nos viessem dizer alguma coisa. Tantas perguntas, tanta ansiedade, tanto medo que senti. Hoje, um ano depois, vamos celebrar a vida. As duas.