De Anónimo a 12.12.2008 às 23:26
Estou a escrever este comentário e estou a pensar que estou a ser má, má porque vou tocar num assunto de um post anterior (que só agora li) e que diz respeito ao seu pai.
Sou enfermeira num serviço de Medicina, todos os dias trato doentes oncológicos, com demências, com AVC, idosos num estado avançado de degradação. Posso lhe dizer que não é fácil e que o mais difícil não é o esforço físico que faço para posicionar e prestar cuidados de higiene e conforto aos doentes que não se conseguem mobilizar e ser autonomos nas suas actividades de vida diárias, o que custa, e custa mesmo, é perceber, é ter a certeza, de que, a menos que venhamos a ter uma morte súbita, um dia nós e os que nos são mais queridos vamos estar naquela situação, que, sim é verdade, tem muito de degradante por mais que as pessoas que nos tratam tentem minorar isso (e é verdade que nem sempre tentam).
Escrevi o comentário porque li algures num post que durante o internamento do seu pai numa unidade de cuidados intensivos nunca ninguem o virou e limpou, só queria dizer que isso é impossível, que se assim fosse, se não houvesse enfermeiros a cuidar da higiene do seu pai( e que MAIS NÂO FAZEM DO QUE É A SUA OBRIGAÇÂO), vocês não conseguiriam estar junto dele, beijá-lo, afagá-lo, ou se conseguissem, e pensando bem até acho que conseguiam porque o amor tudo supera, teriam de fazer um grande esforço para esquecerem o odor que ele exalaria.
É duro mas é verdade.