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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
Ainda estou a tentar digerir o facto de ter chegado ao fim da minha primeira meia maratona um mês antes do previsto. No ano passado, quando a Ana e a Sónia fizeram a sua primeira maratona, prometi-lhes que iria tentar fazer uma meia e inscrevi-me logo na de Madrid. No domingo quando comecei a correr não imaginava que pudesse acabar. Estava muito contente de ali estar. Primeiro no comboio com a Lina, minha amiga há mais de 20 anos e minha companheira em algumas corridas (se bem que ela é muito mais rápida do que eu). Depois, logo ali na partida com a Ana. Já tínhamos falado em fazer esta prova juntas. Na altura ela ainda não tinha a certeza se faria a maratona de Barcelona. Mas, depois de a ter conseguido terminar e de eu não ter conseguido o dorsal, achei que já não correríamos. Só que a vida é mesmo assim, está sempre a surpreender-nos e a Ana conseguiu o tão desejado dorsal e lá estava à minha espera, encostadinha do lado direito, como prometido, para corrermos lado a lado. Pensei que faríamos juntas a ponte e depois cada uma iria à sua vida. Estava enganada. Ela estava completamente artilhada para me acompanhar. Era o gel de frutos vermelhos, o de morango, a goma, mais a água e a bebida isotónica... "bebe isto, eu abro o gel. Agora a água". Nem queria acreditar.
Quando dei por mim já tínhamos passado o km 10 e eu continuava fresca que nem uma alface, feliz por estar ali. Foi a primeira vez que me senti tão acompanhada numa corrida e sei agora o que isso significa. Alguém que não arreda pé, que está ali para ser o nosso balão de oxigénio. Por sorte não me falharam as pernas (tive sempre medo que a ciática me traísse). E lá fomos, as duas, sempre lado a lado, a desfrutar o momento.
A minha intenção era chegar aos 15, 16 km no máximo. Fazer o meu treino longo mas com um ambiente de corrida oficial para me dar mais ânimo. Quando vi a placa dos 15 comecei a achar que era possível. Aos 17 tive a certeza que não ia querer desistir mas, mesmo assim, fui sempre muito prudente, com medo que me desse a travadinha e tivesse de parar. Enquanto corria cruzei-me com uma pessoa que, uma semana antes, tinha visto na corrida da APAV e não conseguia parar de pensar como a cabeça é uma coisa tramada. Durante essa corrida estive sempre a pensar em desistir e cheguei ao fim com a certeza de que a meia não era para mim. E, naquele momento, apenas uma semana depois e já com 12 ou 13 km nas pernas, eu estava fresquíssima e ultrapassei a Isabel da PJ (era este o nome na T-Shirt) com uma perna às costas.
À medida que os km passavam eu ia ganhando confiança e achando que talvez fosse mesmo possível eu chegar ao fim. Aos 20km deu-me a maluca e acelerei um bocadinho, mas sempre a medo, não fosse torcer um pé e esbardalhar-me no meio do chão. A magia aconteceu quando vi a meta. Aí não restaram dúvidas e larguei a chorar. Pensei na minha Sónia e em como gostaria que ela também ali estivesse. Estava mesmo muito emocionada pelo que tinha acabado de conseguir, mas mais ainda por não o ter feito sozinha. Foi a primeira vez que cruzei a meta ao lado de alguém que me é querido. E foi maravilhoso. Nunca terei palavras para agradecer à minha Pipoca nem o texto
que ela escreveu. Ainda em cima da meta, e numa zona proibida, estava a Lina, aka a Lebre, à nossa espera de braços abertos. Grandes mariquinhas que nós fomos!
Eu sei que foi apenas uma corrida. Nenhuma de nós inventou a roda ou descobriu a cura para uma doença incurável. Há, todos os dias, pessoas a fazer coisas muito mais importantes para os destinos da humanidade. Mas este foi o meu momento. Foi uma vitória, uma conquista assente numa coisa boa. E isso vale muito.
Agora é continuar, não desistir e chegar em forma à meia de Madrid a tentar acompanhar e minha lebre, Lina, com a bandeira do glorioso.
E sim, eu sinto-me a MAIOR!!!