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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
Acordar cedo, muito cedo, com uma vozinha que grita "mãe! Mamã, mamãe." Mas também ter de a deitar antes das 20h porque já anda literalmente a dar cabeçadas nas paredes.
Hoje fui convidada para fazer algo que há muito queria fazer mas que tinha um medo enorme de experimentar. Desde que tive cancro e , sobretudo, desde que o meu pai teve e faleceu de cancro, que fiquei mais alerta e atenta para os hospitais, para os internamentos, para o que a palavra hospital pode significar para uma pessoa. Muitos de nós passamos lá horas, dias, semanas, no máximo. Mas há quem chame casa a um hospital; há pessoas que passam mais tempo internadas do que fora de ambiente hospitalar. Durante algum tempo ainda acalentei o desejo de ser voluntária. Mas esbarrei em tanta burocracia que acabei por desistir. Tento contribuir, fazer algo que possa fazer a diferença, mas por outros caminhos. Hoje participei numa visita hospitalar promovida pelo Nariz vermelho. Sobre eles e o espectacular trabalho que desenvolvem falarei mais tarde, quando o meu coração acalmar. Neste momento queria apenas aqui partilhar o turbilhão de emoções que vivi esta manhã. O encontro estava marcado no Hospital D. Estefânia e logo aqui o coração apertou: o sofrimento humano é tramado mas o das crianças, bem o das crianças deixa-me sem pinga de sangue, com a boca seca, uma tremenda vontade de abraçar e de chorar... Fiz a visita com a minha querida Sónia, o que, percebi mais tarde, me ajudou a não me desmanchar logo na primeira visita. Calhou-nos a visita com as Dras. Palhaças ao Serviço 5.2, onde estão doentes crónicos, crianças com doenças crónicas, com internamentos recorrentes... fogo. A sério? Não podia ter sido na cirurgia? Tive uma vontade de largar logo ali a chorar... Mas depois percebi que há momentos em que o que importa não somos nós. Por mais que custe, por mais que a boca seque e as mãos suem, por mais que as pernas tremam e nos apeteça fugir, o importante é percebermos que não estamos ali por nós mas sim por eles, por aquelas crianças doentes, que vivem ali dia após dia, semana após semana... E estamos ali por aquelas pessoas cujo trabalho é fazer sorrir, ou pelo menos tentar, mesmo quando o coração deles aperta seguramente tanto como o meu. Hoje vi coisas extraordinárias, pessoas que fazem do seu trabalho algo grandioso, crianças que sorriram, outras sem força para o fazer; pais que carregam o peso do mundo nos ombros, pais que se alegraram tanto com a nossa visita como as suas crianças; enfermeiras dedicadas... tenho a certeza que não esquecerei o dia de hoje. É impossível. ainda nem consegui engolir o almoço. Mas isso não interessa. Porque o que vi e o que fiz não foi por mim, nem para mim. E posso garantir que fez a diferença. Obrigada Nariz Vermelho.