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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
Esta é uma pergunta que me persegue há 10 anos. Agora formulada no passado, mas muitas muitas vezes dita no presente, em forma de pergunta desesperada. Primeiro, "tenho cancro? Tenho cancro? E agora? Vou morrer?" Depois vieram muitas outras perguntas, quase sempre sem resposta, ou com uma resposta vaga e evasiva. "Vamos ver. Temos de abrir. Cada caso é um caso. Nunca tinha visto nada assim na sua idade." Depois da operação, e de cada vez que iniciava um novo ciclo de tratamentos ou de cada vez que falava com um médico passei a escutar palavras como "Tumor agressivo. Tumor difuso. Gastrectomia total. Células em anel de sinete. Quimioterapia. Radioterapia. E sempre a mesma pergunta na minha cabeça. " tenho cancro, e agora?" Com o passar dos anos as respostas a esta pergunta foram variando, porque também mudou o que eu era, o que esperava, o que queria da vida. Numa primeira fase sobreviver era o mais importante. Depois quis saber tudo, estar informada, saber o que me esperava. A seguir veio a luta física diária. Depois o medo, as dúvidas, as angústias. Passaram muitas fases até chegar aqui, a estes 10 anos. Já esperei muito pouco da vida. Agora quero o melhor dela. O cancro não me matou (não sei se não matará, um dia, mas este não será) e eu estou agora preparada para outras coisas, para outras perguntas e outras respostas. Sem medo. Neste momento, à luz da evolução da investigação na área do cancro do estômago, sinto necessidade de outras respostas à minha pergunta inicial. "Tive cancro, e agora? Foi genético? Que cuidados devo ter? Devo estar alerta pelos meus filhos? " É impressionante a falta de informação. É preciso escavar, não desistir, ouvir muitas imbecilidades até se conseguir bater à porta certa. Hoje bati a essa porta e ela abriu-se. Hoje conheci pessoalmente uma pessoa que muito admiro, o Professor Sobrinho Simões. Bastou-me a lata para lhe mandar um mail. Hoje abri uma porta que me vai levar ao conhecimento. Não sei se vou gostar de todas as descobertas, se não me irão inquietar... Mas está na altura de abrir o livro. A realidade existe e não vale a pena tapar o sol com a peneira... Hoje espero ter iniciado um novo ciclo que quero que se reflita aqui. Um espaço de esclarecimento, de ajuda a quem, como eu, se sentiu tão sozinho na sua busca por mais informação. Porque 10 anos são muito tempo. Está na hora de deixar de pensar para dentro e fazê-lo para fora, esclarecendo-me e ajudando, na medida do possível, que. Precisar.
Este ano, minha gente, comemoro 10 anos de sobrevida. Chiça! Escrevo isto e até me arrepio. 10 anos. Como sou pessoa que acha que isto é mais do que motivos para festejar, estou a organizar uma festarola com todas as pessoas que foram importantes na minha recuperação. Já tenho espaço e ilustradora para o convite (a minha querida Patrícia Furtado). Também já tenho data e nome para a festa. As comemorações iniciaram-se hoje com uma ida ao médico. Está tudo bem. Nada de tumores a viajar pelo meu corpo. Também não tenho anemia. Nem sequer colesterol. Sou um aborrecimento.
A capa que aprendi a fazer na Maria Modista tem rendido bastante. Fiz a minha no workshop, já fiz uma para a Alice e uma outra para a minha afilhada Teresa. Esta semana acabei duas, uma para a Raquel (5 anos) e outra para a Mafalda (8 anos - este último molde copiei do livro da Maria Modista e está impecável). E comecei agora a fazer outra, para oferecer a uma outra menina, a Madalena, que vai fazer 5 anos. Estas capas são trabalhosas e na verdade ficam caras de fazer, porque levam muito tecido e porque os materiais são caros. Tenho andado a experimentar: já fiz com pelo por dentro, já fiz com tecido estampado (e assim a capa fica completamente reversível). Esta última que estou a fazer vai ser impermeável. Gosto de experimentar tecidos e padrões.
Deixo aqui a fotografia de duas, uma delas que a Alice experimentou.
Compras (muitas...perdi a cabeça) acompanhada da minha Alice, almoço bom e sofá. Devia estar a costurar, tenho uma capa para fazer... Mas estou sem vontade de sair do sofá/p>
A minha dor de garganta abrandou. Tenho os dois miúdos doentes. Ela, coitada, não consegue manejar a chucha e o nariz entupido ao mesmo tempo. Ele tem tosse e o nariz congestionado, mas é um crescido, está a safar-se lindamente. Eu andei numa correria com uma autora que veio de Sevilha para promover o seu livro. Hoje foi-se embora. Amanhã tenho milhares de coisas para fazer no escritório, entre as quais o inventário (que raio...) Entretanto, vou pensando na costura e dedicando os poucos momentos que tenho a acabar as capas das manas M. Capas prometidas para o dia de Reis. Estão quase, quase... Mais logo mostro as fotos. Hoje ainda consegui comprar uns tecidos novos. Estou cheia de ideias. Só me falta o tempo.
Este fim de semana não fui correr porque ontem acordei com dores de garganta. Ainda pensei que estava a ser mariquinhas... São sete da tarde, estou no comboio de regresso a Lisboa, depois de um dia de trabalho no Porto. Dói-me tanto a garganta que nem saliva consigo engolir. Amanhã tenho uma reunião importante de manhã e uma autora para ir buscar ao aeroporto ao fim da tarde. À noite devo levá-la a jantar e devo acompanhá-la até quinta de manhã. De certeza que é só segunda-feira?
O início de 2015 está a ser bom. Muito bom. O fim de 2014, pelo contrário, foi uma bela merda. Muita tristeza, muitas angústias, muita confusão na miha vida e na minha cabeça... em suma, muita coisa para arrumar. Acho que o consegui fazer: arrumar muita coisa e varrer para fora da minha cabeça coisas que não deveriam estar lá. Foi um fim de ano doloroso porqie me obrigou a muita coisa, a assumir o que quero e o que não quero, o que sei fazer e o que não sei, até onde estou diposta e/ou posso ir. Confrontar-me com tudo isto foi difícil, esgotou-me. Mas eis que surgiu Janeiro e eu com ele. Renovada. O trabalho é muito e com muitos desafios pelo meio; há novas coisas que quero fazer, projetos pessoais que não quero abandonar. Ando numa correria doida, mas ando contente. No meio destes 15 dias frenéticos perdi os meus óculos. Cada vez mais pitosga já estava a maldizer a minha vida. Com mais uma despesa para começar o ano. E no momento em que me preparava para marcar nova consulta de oftalmologia recebo o telefonema da semana. "Sabias que deixaste os teus óculos em minha casa, não sabias?". Não, não sabia, mas fiquei muito feliz, querida A.
Comprei uma máquina de fazer pom-poms... medo, tenham muito medo que eu agora estou capaz de os colocar em todo o lado. Depois da dificuldade em fazer um pom pom decente para o gorro da Alice, rendi-me a estas maquinetas made in Germany. Para a semana trago novidades.
Já várias vezes tentei retomar a prática de desporto, e todas sem grande sucesso.Antes do nascimento do Henrique era uma grande adepta do ginásio. Depois de ter ficado doente deixei-me disso. Quando a Alice nasceu comecei a fazer caminhadas, mas foi sol de pouca dura. Não quero fazer disto uma resolução de ano novo porque com o meu histórico é bem provável que não dê em nada. Mas no domingo corri 5 km e ontem mais 4. Até quando?
Natação com a Alice( em boa hora troquei final da sexta-feira pela manhã de sábado), almoço improvisado para chegar a tempo do concerto do mais velho, encontro com amigos do coração, corrida de 5km seguida de caminhada de 4km (espero conseguir cumprir o meu plano em relação a este assunto), almoço em família, passeio com a mais pequena, encontro com amigo, conversa boa, jantar a ver o Barcelona/Atlético... Nada mau. Orlo meio ainda houve tempo para fazer um gorro. Podia ter sido um fim-de-semana muito pior...
Esta semana fui a dois velórios de duas pessoas que passaram pela minha vida em momentos completamente diferentes, mas ambas deixaram a sua marca no meu coração. Já aqui escrevi sobre a Filipa e a alegria que foi para mim conhecê-la. Hoje fui ao velório do pai de uma amiga de infância. Uma daquelas pessoas que a vida se encarregou de afastar de mim mas à quem estarei para sempre ligada. Foram muitos anos de convívio, muitos segredos trocados, muitas brincadeiras, muitas zangas... Cada uma de nós teve um papel importante na infância da outra e teremos sempre memórias fantásticas do que vivemos juntas. A infância tem um lado mágico e nós bem que o explorámos. Esta minha amiga que tem mais ou menos a minha idade ficou hoje órfã de pai e já o era de mãe. A caminho do velório não conseguia deixar de pensar nisto, no que seria a minha vida sem a minha mãe... O que seria de mim sem nenhum dos dois. Já foi tão duro perder o meu pai. Não consigo sequer conceber a ideia de que a minha mãe me pode morrer. Esta morte mexeu muito comigo, trouxe à tona a morte do meu pai, a sua doença. Este pai da minha amiga foi o único amigo do meu pai que, quando ele ficou doente e deixou de falar e de sair à rua, o ia visitar todos os dias. Não tenho noção de tempo mas, pelo menos durante um ano, quando o meu pai não estava internado, este amigo ia lá a casa todos os dias para jogar às cartas com o meu pai. Era o melhor momento do seu dia. Sentavam-se, este amigo dava-lhe conta das novidades, o meu pai anuía ou mostrava perplexidade, jogavam à bisca e depois despediam-se até ao dia seguinte... Não sei se consigo expressar a gratidão que sinto por este amigo, que foi o único grande amigo do meu pai porque soube estar presente quando todos viraram as costas. Todos mesmo. Hoje, quando cheguei perto da minha amiga, abracei-a, um abraço apertado. E ela disse-me. "A vida mudou completamente. Fechou-se um ciclo. Agora sou eu a mais velha. E eu não consigo imaginar a sensação de vazio quando perdemos os dois pais. É Tão duro chegar a esta fase da vida: não são os 40, nem as rugas nem o rio que o parta. É esta sensação, este peso no peito, este despertar para uma realidade que não queremos ver: a de que os nossos pais não são imortais e que, mais cedo ou mais tarde, eles vão morrer. E vai daí pus-me a pensar na minha mãe e no que seria a minha vida sem ela. E o resultado foi uma bela choradeira. Não quero nem consigo imaginar a minha vida sem ela. Recuso-me. Em vez disso, de me por a pensar em coisas que não interessam, vou mas é Mimá-la, dizer-lhe muitas vezes que a adoro, ter mais paciência e ser mais carinhosa. Adoro-te, querida mãe.
Conheci-a algures em 2009 mas foi em 2010, meses antes de nascer a Matéria-Prima, que a Pipinha passou a fazer parte da minha vida. "Piquena" (palavra que ela repetia até à exaustão), bem diposta, sorridente, generosa, a Filipa era uma pessoa única. Das muitas pessoas que conheço só m lembro de uma outra com tamanha garra para agarrar a vida, a Helena. Muitas vezes me surpreendi com a sua garra, com a sua determinação. Passámos muitas horas juntas, tinha sempre uma palavra amiga, agradável, de esperança. Era a sabedoria de alguém para quem o tempo já não tem tanta urgência... Tinha paixão pela vida, pelos seus sobrnhos-netos, pela cozinha. Sorria alto, tinha a voz forte; nunca a ouvi lamuriar-se.
Foi a primeira pessoa a quem o meu filho pediu um autógrafo. Na terça-feira, quando o professor de Ciências lhe disse que tinha morrido a Filipa Vacondeus e fez uma pequena piada com o seu nome, ele disse que não tinha graça, que eu devia estar muito triste porque era amiga dela. Destes anos de convívio fica-me apenas uma mágoa: não ter levado a Alice lá a casa para a Pipinha se deliciar. Foram muitas as conversas e as fotografias enviadas pelo chat do facebook... Hoje, durante a missa, escutei palavras bonitas, cheias de significado, vindas das pessoas que ela tanto adorava. Senti-me triste mas também feliz por comprovar o quanto era amada. Querida Filipa, onde quer que esteja será sempre uma luzinha no meu coração.
É difícil descrever o que sinto com a barbárie que aconteceu em Paris. Por todos os motivos possíveis e imaginários: porque é cobarde; porque é um ignóbil ataque à liberdade de expressão, um dos pilares de qualquer sociedade que se queira democrática; porque há muitos árabes por todo o mundo a sofrer e que vão sofrer com este ataque; porque já fui jornalista; porque sou casada com um; porque tenho dois filhos e este mundo é cada vez menos um lugar seguro. Que tipo de gente é esta? Que tipo de valores defendem? Os meus sentimentos a todos os familiares e amigos destas pessoas que, apesar de constantemente ameaçadas, preferiram morrer de pé a viver de joelhos. JE SUIS CHARLIE!!
E passa o dia a mandar-me mensagens... Mesmo quando estamos os dois em casa
Continua a adorar comer. Vem a correr para a porta a dizer "mamã" quando chego a casa (faz o mesmo com o "papá" e com o "quique". Dobra o riso quando brinca com o irmão. Já distingue as duas avós. Quer a atenção só para ela, grita quando estamos a conversar com outras pessoas só para chamar a atenção. Passa o dia a cantar... Já diz Kitty quando vê a gata japonesa (embora diga o mesmo quando vê a Minnie). Não para quieta, o que é bastante irritante e mexe em tudo o que vê mesmo depois de avisada milhares de vezes. Está cada vez mais fofa, está miúda.
O inicio das aulas é que marca verdadeiramente o arranque do ano novo aqui em casa. É o fim das ferias escolares, a reorganização das tarefas e dos horários, o regresso em força ao trabalho... Este novo ano traz muitas mudanças à minha vida. Se o fim de 2014 foi um período de grande reflexão, introspecção, angústia e incerteza, 2015 tem tudo para ser diferente. Há muitas coisas que quero e preciso de mudar, umas maiores e por isso mais complicadas de executar, mas outras bastante simples. E são estas, na verdade, as mais importantes. 2015 é um ano muito importante na minha vida. Traz consigo uma carga simbólica que não posso nem quero desprezar. Este é o ano das pequenas coisas, das pequenas conquistas. Todas somadas, todos os dias.
Eu benfiquista me confesso: não consigo ser boa pessoa e desejar boa sorte ao Enzo. Do me apetece que ele parta uma perna. E isto não é coisa de que me orgulhe.