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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
organizar a minha vida e já volto.
Tenho andado afastada daqui, mas tento não andar afastada da vida. Há umas duas semanas fui ao cinema ver o "Boyhood". Gostei tanto, mas tanto. Identifiquei-me tanto com aquelas pessoas. Não com as particularidades das suas vidas, que em nada se parecem com a minha. Mas com os sentimentos, com as emoções, com as derrotas e vitórias sobre a vida, com as angústias e medos de ser pai. Para além de ter gostado do conceito de se filmar o mesmo miúdo durante 12 anos, o que mais me tocou no filme foi a forma como ele se intruzou com a minha vida. Não quero aqui teorizar sobre frases feitas do género "só quem tem filhos é que sabe", mas a verdade é que este é mesmo um filme para pais na casa dos 40; pessoas que tomaram decisões na vida condicionados pelo facto de terem filhos. É algo que me acontece diariamente, com coisas com mais ou menos importância. Mas a verdade é que há uma parte de nós que fica para segundo plano. E por isso é mais do que naturual que o vazio se instale quando eles crescem e vão embora. É natural que esse vazio seja ainda maior quando os pais são separados e os filhos ficaram com um deles, porque aí o vazio é total, não está lá outra pessoa que ajude a preencher o espaço deixado. Gosto de filmes assim. Sem necessidade de grandes enredos, nem de grandes acontecimentos. Mas bem filmados, com um bom argumento e próximos, muito próximos de mim.
Na semana passada a minha empregada disse-me que o ferro de engomar tinha avariado. "Deita muita água", dizia ela. Eu tive quase quase para a matar. Como é possível, um ferro que custou 70 euros há um ano atrás. Como é possível, pensava eu irada lembrando-me que a minha santa mãe tem o mesmo ferro há mais de três séculos, e eu... esta tristeza. E lá comecei a remoer a notícia e a lembrar-me daquelas frases das nossas mães de que "as empregadas não estimam nada. Não é delas, não lhes custou a ganhar." Eu não queria ser uma dessas pessoas feias que pensa tais alarvidades da sua empregada, mas a verdade é que eram esses pensamentos do demo que me invadiam naquele momento. Ontem fui à procura da garantia do dito cujo, que agora não é uma garantia mas sim um talão da loja. E não encontrei. E fiquei para morrer. Mais uma despesa, pensei eu. Até que hoje lhe voltei a perguntar como estava o ferro e ela disse que já tinha passado roupa com ele a deitar menos água e que depois tinha voltado a deitar mais. Mistério. Foi então que decidi ligá-lo ali mesmo, à frente del, para confirmar. E constatei que nada havia de errado com o meu bichinho. A minha empregada é que não lê livros de instruções e estava a colocar o ferro na auto-limpeza a julgar que estava a ligar o vapor. Não havia ele de deitar água, coitado. Depois de, na semana anterior, ter achado que a nossa televisão não passava deste Natal (até termos percebido que era apenas mau contacto entre o cabo da tv e a box), perceber que o ferro não está a falecer é algo me que alegra particularmente. Mas que também me deixa a pensar no estado de saúde mental aqui desta dona de casa.