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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
e um frio na barriga que me dá insónias.
Sete Natais sem o meu pai. Este ano senti particularmente a sua falta. Precisava tanto dos seus conselhos... Este foi um Natal tranquilo. Mas também muito angustiante, de balanços, de decisões, foi um período para arrumar a cabeça e o coração. Apaziguar dores, angústias, tristezas e frustrações. Vem aí um ano difícil, fazes-me falta.
organizar a minha vida e já volto.
Tenho andado afastada daqui, mas tento não andar afastada da vida. Há umas duas semanas fui ao cinema ver o "Boyhood". Gostei tanto, mas tanto. Identifiquei-me tanto com aquelas pessoas. Não com as particularidades das suas vidas, que em nada se parecem com a minha. Mas com os sentimentos, com as emoções, com as derrotas e vitórias sobre a vida, com as angústias e medos de ser pai. Para além de ter gostado do conceito de se filmar o mesmo miúdo durante 12 anos, o que mais me tocou no filme foi a forma como ele se intruzou com a minha vida. Não quero aqui teorizar sobre frases feitas do género "só quem tem filhos é que sabe", mas a verdade é que este é mesmo um filme para pais na casa dos 40; pessoas que tomaram decisões na vida condicionados pelo facto de terem filhos. É algo que me acontece diariamente, com coisas com mais ou menos importância. Mas a verdade é que há uma parte de nós que fica para segundo plano. E por isso é mais do que naturual que o vazio se instale quando eles crescem e vão embora. É natural que esse vazio seja ainda maior quando os pais são separados e os filhos ficaram com um deles, porque aí o vazio é total, não está lá outra pessoa que ajude a preencher o espaço deixado. Gosto de filmes assim. Sem necessidade de grandes enredos, nem de grandes acontecimentos. Mas bem filmados, com um bom argumento e próximos, muito próximos de mim.
Na semana passada a minha empregada disse-me que o ferro de engomar tinha avariado. "Deita muita água", dizia ela. Eu tive quase quase para a matar. Como é possível, um ferro que custou 70 euros há um ano atrás. Como é possível, pensava eu irada lembrando-me que a minha santa mãe tem o mesmo ferro há mais de três séculos, e eu... esta tristeza. E lá comecei a remoer a notícia e a lembrar-me daquelas frases das nossas mães de que "as empregadas não estimam nada. Não é delas, não lhes custou a ganhar." Eu não queria ser uma dessas pessoas feias que pensa tais alarvidades da sua empregada, mas a verdade é que eram esses pensamentos do demo que me invadiam naquele momento. Ontem fui à procura da garantia do dito cujo, que agora não é uma garantia mas sim um talão da loja. E não encontrei. E fiquei para morrer. Mais uma despesa, pensei eu. Até que hoje lhe voltei a perguntar como estava o ferro e ela disse que já tinha passado roupa com ele a deitar menos água e que depois tinha voltado a deitar mais. Mistério. Foi então que decidi ligá-lo ali mesmo, à frente del, para confirmar. E constatei que nada havia de errado com o meu bichinho. A minha empregada é que não lê livros de instruções e estava a colocar o ferro na auto-limpeza a julgar que estava a ligar o vapor. Não havia ele de deitar água, coitado. Depois de, na semana anterior, ter achado que a nossa televisão não passava deste Natal (até termos percebido que era apenas mau contacto entre o cabo da tv e a box), perceber que o ferro não está a falecer é algo me que alegra particularmente. Mas que também me deixa a pensar no estado de saúde mental aqui desta dona de casa.
O Natal está mesmo à porta. Parei hje para pensar e reparei que falta pouco mais de uma semana para que tudo aconteça. Eu ando com pouca vontade, nem me reconheço. Mas hoje pensei que é melhor ficar com vontade de celebrar o Natal rapidamente. É que é tudo tão rápdo. Não tarda nadfa já passou. E depois? Depois vou ficar a lamentar-me porque não tive espírito natalício na devida altura.
Hoje, por razões várias, vi-me forçada a pensar num assunto que mexe comigo e sobre o qual já falei várias vezes, mas que nunca é demais relembrar. O perigo dos fundamentalismos.
Não vou trazer a esta discussão os de carácter religioso ou político. Vou apenas concentrar-me nos fundamentalismos que mexem connosco, mulheres e mães, pessoas empenhadas em fazer o melhor possível pelos seus filhos, mesmo que tropeçando e errando aqui e acolá.
A meu ver o fundamentalismo para com os filhos começa antes de eles o serem, quando a mulher se vê julgada e condenada em praça pública quando e se decide pôr termo a uma gravidez. Para mim, a mulher que aborta, salvo casos muito raros, está perante uma decisão difícil, que nunca esquecerá. Enfrenta uma dor grande, gigantesca. É como uma ferida aberta no coração. Sara, cicatriza, mas basta um pequeno esforço para ela voltar a sangrar. Basta um dia triste, uma roupa, um cheiro, o nascimento de outro bebé, uma ida à maternidade, o aniversário da fatídica data... Basta viver para carregar essa dor.
Mas há os fundamentalistas da vida. E para esses a mulher que aborta é uma criminosa. Matou ao não permitir que uma vida se gerasse.
Depois temos os fundamentalistas da amamentação. E para esses mãe que não amamenta é uma criminosa que não zela pelo bem-estar do seu filho; é uma egoísta que coloca a estética do seu corpo acima da saúde do filho. Sim, porque as crianças amamentadas são mais fortes, e saudáveis, e bonitas, e felizes, e resilientes, e tudo e tudo.
No extremo oposto temos os fundamentalistas que se escandalizam com a amamentação. Porque é feio, e grotesco, porque ninguém deveria estar sujeito à agressão de ver uma maminha em público, mesmo que de relance. Ver um grande decote ou um rabo quase de fora não tem mal nenhum. Já uma mãe a amamentar...cruzes credo.
Depois, se tivemos o bom senso de não abortar e a criança sobreviveu à amamentação, temos de atravessar calvário da educação. Do gritar, da palmada... E aí entramos num campeonato completamente diferente no que ao fundamentalismo e aos seus perigos diz respeito. Podemos ser a mãe banana e permissiva, que dá liberdade a mais à criança ou, se ousarmos dar-lhe duas ou três valentes palmadas em publico, passamos rapidamente a ser a mãe agressora e criminosa, que ouve insultos, que é maltratada e ameaçada. E aqui o caso muda de figura porque os maus tratos infantis são crime público. Quer isto dizer que basta um fundamentalista na rua para uma mãe desesperada que perdeu as estribeiras e espetou duas ou três palmadas no filho, passar rapidamente a uma criminosa que vai, com quase toda a certeza, ser chamada a tribunal. E o que acontece nestes casos?
Fundamentalismos à parte, ter filhos é a melhor coisa do mundo. Mas no mundo actual, onde todos se julgam detentores da verdade absoluta e do juízo moral perfeito, pode também significar um perigo enorme. E isso arrepia-me e dá-me muito medo.
Foi hoje. Peguei-lhe ao colo pela primeira vez. Tão pequeno, tão indefeso, tão maravilhosamente bebé. Aquele cheiro,naqueles pequeninos gemidos... É tão animal o que sentimos por um bebé. Até tira o fôlego. Hoje foi assim, peguei no M pela primeira vez. A primeira de muitas, espero.
Os filhos fazem-nos fazer coisas impensáveis. Por eles passamos noites em branco com eles sentados no nosso colo a dormir, para assim afastarmos a maldita tosse; por eles, e quando a febre alta ataca, passamos a noite em vigília, à sua cabeceira; por um sorriso na sua cara corremos seca e meca à procura da prenda ideal, ou do local xpto para a festa de aniversario; por eles vemos episódios das séries mais palermas quando o que queríamos mesmo era borregar no sofá ou ler um livro; por eles abdicamos de cinemas, jantares, férias e romance; por eles voltamos a aprender matemática, geometria, História e Ciências; por eles comemos mais hambúrgueres do que é suposto; por eles revemos os episódios do star Wars, todos os indiana jones e regresso ao futuro; por eles passamos horas à beira mar; por eles deixamos de comer o gelado por inteiro, e chocolate, e o croissant também; por eles a vida passou a ser outra coisa, menos eu é mais nós; por eles deixámos de ser pessoas livres, passámos a ter uma responsabilidade gigantesca, o mundo já não é um lugar seguro e o perigo está sempre à espreita. Ter filhos é deixar de ser eu é passar a ser nós; é viver em angústia e défice permanente mas é também ser mais completa, mais inteira, mais feliz, mas uma felicidade consciente e assustadora. E depois há dias em que tudo isto parece não bastar. E é fodido.
Não vos acontece? Ter a sensação de que estão constantemente a ser postos à prova? em casa, no trabalho. Com os filhos, com as tarefas da casa, com os tempos livres, com o trabalho, com os colegas... sempre a tentar fazer bem, a cumprir expectativas... Há dias tramados. Em que só apetece desligar o interruptor; virar o sinal de "fechado para férias" e esperar... esperar.