Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
Merda de dia. Mesmo. Mas não podia terminar sem me lembrar que hoje farias 65 anos. Se cá estivesses, pai, este teria sido um dia menos merdoso.
Ainda estou a tentar digerir o facto de ter chegado ao fim da minha primeira meia maratona um mês antes do previsto. No ano passado, quando a Ana e a Sónia fizeram a sua primeira maratona, prometi-lhes que iria tentar fazer uma meia e inscrevi-me logo na de Madrid. No domingo quando comecei a correr não imaginava que pudesse acabar. Estava muito contente de ali estar. Primeiro no comboio com a Lina, minha amiga há mais de 20 anos e minha companheira em algumas corridas (se bem que ela é muito mais rápida do que eu). Depois, logo ali na partida com a Ana. Já tínhamos falado em fazer esta prova juntas. Na altura ela ainda não tinha a certeza se faria a maratona de Barcelona. Mas, depois de a ter conseguido terminar e de eu não ter conseguido o dorsal, achei que já não correríamos. Só que a vida é mesmo assim, está sempre a surpreender-nos e a Ana conseguiu o tão desejado dorsal e lá estava à minha espera, encostadinha do lado direito, como prometido, para corrermos lado a lado. Pensei que faríamos juntas a ponte e depois cada uma iria à sua vida. Estava enganada. Ela estava completamente artilhada para me acompanhar. Era o gel de frutos vermelhos, o de morango, a goma, mais a água e a bebida isotónica... "bebe isto, eu abro o gel. Agora a água". Nem queria acreditar.
Quando dei por mim já tínhamos passado o km 10 e eu continuava fresca que nem uma alface, feliz por estar ali. Foi a primeira vez que me senti tão acompanhada numa corrida e sei agora o que isso significa. Alguém que não arreda pé, que está ali para ser o nosso balão de oxigénio. Por sorte não me falharam as pernas (tive sempre medo que a ciática me traísse). E lá fomos, as duas, sempre lado a lado, a desfrutar o momento.
A minha intenção era chegar aos 15, 16 km no máximo. Fazer o meu treino longo mas com um ambiente de corrida oficial para me dar mais ânimo. Quando vi a placa dos 15 comecei a achar que era possível. Aos 17 tive a certeza que não ia querer desistir mas, mesmo assim, fui sempre muito prudente, com medo que me desse a travadinha e tivesse de parar. Enquanto corria cruzei-me com uma pessoa que, uma semana antes, tinha visto na corrida da APAV e não conseguia parar de pensar como a cabeça é uma coisa tramada. Durante essa corrida estive sempre a pensar em desistir e cheguei ao fim com a certeza de que a meia não era para mim. E, naquele momento, apenas uma semana depois e já com 12 ou 13 km nas pernas, eu estava fresquíssima e ultrapassei a Isabel da PJ (era este o nome na T-Shirt) com uma perna às costas.
À medida que os km passavam eu ia ganhando confiança e achando que talvez fosse mesmo possível eu chegar ao fim. Aos 20km deu-me a maluca e acelerei um bocadinho, mas sempre a medo, não fosse torcer um pé e esbardalhar-me no meio do chão. A magia aconteceu quando vi a meta. Aí não restaram dúvidas e larguei a chorar. Pensei na minha Sónia e em como gostaria que ela também ali estivesse. Estava mesmo muito emocionada pelo que tinha acabado de conseguir, mas mais ainda por não o ter feito sozinha. Foi a primeira vez que cruzei a meta ao lado de alguém que me é querido. E foi maravilhoso. Nunca terei palavras para agradecer à minha Pipoca nem o texto
que ela escreveu. Ainda em cima da meta, e numa zona proibida, estava a Lina, aka a Lebre, à nossa espera de braços abertos. Grandes mariquinhas que nós fomos!
Eu sei que foi apenas uma corrida. Nenhuma de nós inventou a roda ou descobriu a cura para uma doença incurável. Há, todos os dias, pessoas a fazer coisas muito mais importantes para os destinos da humanidade. Mas este foi o meu momento. Foi uma vitória, uma conquista assente numa coisa boa. E isso vale muito.
Agora é continuar, não desistir e chegar em forma à meia de Madrid a tentar acompanhar e minha lebre, Lina, com a bandeira do glorioso.
E sim, eu sinto-me a MAIOR!!!