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Depois de um dia mau pode haver um céu estrelado. O meu reino.
não tenho nada para dizer. Ou não me apetece dizer nada. Hoje passou-me pela cabeça acabar com este blog, tal é o vazio. é o que me ocorre dizer.
abre-se uma janela. No caso, uma fronteira. A Hungria fechou, a Croácia abriu. Histórias assim, ou como a dos cidadãos austríacos que vão nos seus carros buscar refugiados à Hungria, fazem-me acreditar nas pessoas, na generosidade. O que não é coisa pouca
A ignorância e o preconceito são dois dos maiores obstáculos a esta crise de refugiados que se vive. Não falo dos políticos e governantes europeus (embora, em muitos casos, também se aplique a eles). Falo de pessoas como nós, da sociedade civil, das pessoas com as quais nos cruzamos, com quem trabalhamos, que pertencem ao nosso círculo de amigos e/ou familiares. "Mas nós não temos trabalho para nós, quanto mais para estes" "Os árabes são terroristas" "E quantos do Estado Islâmico não estão entre eles?" "Querias ter um como teu vizinho?" Oiço estas frases e sinto um arrepio. No corpo e na alma. Ah e tal em Portugal não há xenofobia, somos um país de brandos costumes... a sério? Quando oiço da boca de um miúdo de 16 anos frases como as que aqui escrevi fico verdadeiramente assustada. Porque há algum adulto que lhe passa essa "verdade absoluta do mundo" e porque ele, com 16 anos não tem qualquer capacidade crítica de pensar sobre a informação que lhe passam. Da minha parte, vou tentando educar os meus filhos para serem tolerantes, para perceberem a sorte que têm em viver num país à beira-mar plantado. Não sei se vou ser bem sucedida. Até ver parece que sim. O importante é tentar, e não desistir de lutar contra a ignorância.
Há muito que aqui não falo da corrida. Ando a atravessar uma monumental crise de motivação, ou de falta dela. Tudo começou no fim de Julho com uma cirurgia que me impediu de correr durante um mês. Pensava eu que voltar seria fácil. Estava no meu pico de forma, a correr a 5,50m por km (para mim é um feito). Mas não foi. Foi, aliás, muito difícil. Pelo meio uma consulta de pneumologia, e hiper reatividade brônquica diagnosticada. E depois, bem depois não há desculpas. Deixei-me ficar no sofá. Arranjei mil e uma desculpas. Mas eu não sou um ovo podre. E tenho tentado, devagarinho, voltado a correr. Na semana passada foram duas. Uma de 5km e outra de 6,5km na companhia do meu filho (eu a correr, ele de bicicleta). Ainda estou muito longe de voltar à forma em que estava antes de parar, mas não vou desistir. Não posso. Não quero. Sou uma pessoa mais equilibrada, mais satisfeita, quando corro. Por tudo, pelo exercício, pelo cansaço, pela superação, pelo desafio. É muito fácil arranjar desculpas para não correr. é, aliás, o mais fácil. Mas eu não vou enveredar por aí. E já estabeleci um mega desafio que vou ultrapassar. Vão ver!
O jantar de quinta-feira foi uma verdadeira desgraça. Há muitas fotos que comprovam que o espírito da rambóia desceu literalmente em mim tais são as figuras tristes... O que interessa é que não só fui ao jantar, que foi para lá de espetacular, como ainda por cima fui dar um pezinho de dança com uma das amigas do jantar, a minha querida Sónia. As outras não tiveram pedalada.
Esta é a minha única fotografia decente.
As outras, muito mais divertidas, não vou colocar porque envolvem outras meninas. Mas foram um real espetaculo, é que tenho para dizer. Ah, e foram tiradas pela querida Inês, da afterclick.
O Sócrates saiu da cadeia, o Portas levou tareia da Catarina Martins, o Passos levou tareia do Costa e o Miguel Macedo é arguido. Os miúdos já voltaram para casa, o que terrivelmente bom e, simultaneamente, terrivelmente mau. O móvel está montado mas há muito mais por organizar e arrumar. A escola do mais velho ainda não começou e eu ando às voltas com cenas para o entreter. O drama dos refugiados continua mas já pouco se fala sobre o assunto. Eu continuo mergulhada nos mesmos dramas existenciais mas sem tempo para eles porque setembro já vai quase a meio e com ele o trabalho a aumentar. Mas, esperem, hoje é dia 10. Noite da Vogue e eu vou ramboiar com umas certas e determinadas gajas. Não estou no espírito, confesso. Mas até à noite ele vai baixar em mim, ou se vai.
Os últimos dias têm sido tristes. Uma morte, outra morte... O inevitável questionamento sobre o sentido da vida e o que dela se pretende. Não têm sido dias fáceis. Não têm sido dias tranquilos. Uma angústia, uma tristeza, as perguntas que me martelam a cabeça: o que é a felicidade, qual propósito das coisas... Não têm sido dias fáceis. Mas no meio de toda esta angústia há histórias de verdadeiro amor e solidariedade, de uma amizade e entrega sem limites. Eu perdi um objeto importante, mais do ponto de vista sentimental do que outra coisa. Não havia como recuperá-lo, pensava eu. Mas o meu irmão, num espírito de amor e de solidariedade que são difíceis de encontrar, fez quase 700 km e encontrou-o. A história é digna de um filme. Um filme com final feliz, com tantas peripécias e reviravoltas que dificilmente acreditariam se aqui contasse com pormenores. Mas a verdade, o que vai ficar para sempre gravado no meu coração é que o meu irmão é das pessoas mais generosas que conheço e que, para além do significado do gesto, trouxe-me um alento especial num momento tão triste. Obrigada.
Esta é a imagem que hoje guardo no coração. Espero que a vida deste homem um dia volte a ter alguma luz. Os filhos dele eram os "mais bonitos do mundo" mas ele nunca mais os vai abraças nos seus braços. E não deverá haver dor maior do que esta.
Triste, vazia, impotente, revoltada, triste, triste, triste. Faltam-me as palavras para tanto horror. Entendo todas as teorias sobre a banalização do mal, e a indiferença das pessoas, e o despertar das consciências, e a necessidade de publicar as fotografias e de mostrar o vídeo. Não sei se concordo ou discordo, se é pertinente mostrar ou imperativo ver. Também não tenho teorias sobre a importância destas imagens para o futuro, para o curso da História destes refugiados e dos que virão, ou para a História desta Europa que parece não ter memória. Não sei, não consigo sentir. Estou anestesiada de tanta angústia. Amanhã arregaço as mangas. Há um novo dia a começar e tanto para fazer, tanta gente para ajudar, nem que seja da forma mais simples. Mas hoje, hoje fecho os olhos e não há um minuto em que não veja a água a bater naquele pequeno corpo, ali estendido. Tão frágil, tão pequenino, tão indefeso. E a pergunta que grita na minha cabeça é: e se fosse um filho meu? E se fosse um dos meus? Como conseguiria sobreviver a tamanha exposição da minha dor?
Tenho andado afastada daqui (é a vida a meter-se no meio), mas parece-me que este vídeo é um motivo mais do que suficiente para aqui voltar. Só porque não nos está a acontecer não significa que não exista.